Agência analisa hipótese de
vazamento ter sido provocado pela ruptura parcial do reservatório de petróleo
A hipótese de o vazamento do poço da Chevron no
Campo de Frade ter sido provocado pela ruptura parcial do reservatório de
petróleo vem sendo analisada de maneira sigilosa pela Agência Nacional do
Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Ainda não há comprovação de que
esse rompimento tenha ocorrido. Se for confirmado, porém, o vazamento poderá
ter “proporções gigantescas”, avalia a cúpula da agência.
A reserva quanto à divulgação da possibilidade se
baseia na constatação de que, se o reservatório natural rompeu, não haverá
meios de conter o vazamento com rapidez. A tentativa de contenção exigiria
complexos trabalhos de engenharia, com equipamentos sofisticados operando a
grandes profundidades. Neste caso, o óleo tenderia a vazar na bacia petrolífera
de Campos, onde fica o Campo de Frade, por tempo indeterminado, ainda que em
pequenas quantidades.
O que se conhece até agora, divulgado pela companhia
norte-americana Chevron, responsável pela exploração de Frade, é que o óleo
vaza por brecha na parede do poço. Segundo a companhia, a parede se rompeu por
causa da pressão exercida pela lama injetada no poço, procedimento habitual na
exploração de petróleo. O petróleo alcançou a superfície após, a partir do
buraco, percorrer o subsolo marinho até encontrar fraturas geológicas que
propiciaram o contato com o oceano.
A questão que mais tem afligido os técnicos e diretores
da agência é a suspeita de que a lama injetada no poço também pode ter causado
rompimentos na estrutura do reservatório de petróleo, cujas paredes têm
tamanhos, formatos e espessuras diferentes. Há trechos porosos, de material
menos consistente, mais suscetíveis a rupturas nos abalos de terreno.
Dentro do reservatório – uma espécie de grande cisterna
formada no decorrer de milhões de anos – fica o petróleo, extraído por poços
artificiais perfurados pelas empresas exploradoras (mais informações no
infográfico ao lado).
Professor do Instituto de Geociências da Universidade
de Brasília (UNB), o geólogo Carlos Jorge Abreu considera viável a hipótese de
ruptura de alguma estrutura do reservatório. Em tese, disse que pressões mal
calculadas podem “fraturar o terreno, botando em conexão o reservatório de
petróleo e o fundo do mar”.
“Quando se põe uma pressão mais alta que a adequada
pode haver rompimento do reservatório. Estão falando muito de cimentação do
poço. Mas, se o poço foi cimentado e o óleo continua vazando, só pode ser por
uma fratura do reservatório. Por vezes se aplica uma pressão maior do que a
estrutura suporta. A pressão alta pode matar um poço”, afirmou o professor.
Para o oceanógrafo David Zee, perito chamado pela
Polícia Federal para atuar no inquérito, a hipótese de rompimento no
reservatório é pouco provável, embora, em tese, possa acontecer na aplicação de
pressões calculadas de maneira equivocada. “É possível acontecer algo do tipo,
mas é muito difícil”, observou o especialista.
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